POR MÁRIO CELSO
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| JULIO |
Júlio
era pacato. Jovem senhor na casa dos 50 anos, rejeitava tudo o que era novo. Aceitar era
afirmar que o tempo passava para ele.
Havia jurado que nunca ficaria velho.
Curtiu Woodstock, sexo, drogas rock and roll e ... ABBA.
O
grupo sueco surgiu numa fase de transição da vida de Julio onde a disco foi o melhor lugar para
socialização depois que seus amigos do festival da liberdade tomaram caminhos
distintos, desde clínicas de internação a repouso eterno.
Dançava
Queen, encontrava Fernando, Chiquititas e Mamma Mia! Julio encontrou um amor.
Casou,
formou-se engenheiro, teve um filho e queria ser amigo dos amigos do filho. A
boa relação entre ambos permitia este contato intenso. Em off, Julio era
conhecido como Coroa Bacana. Na frente era o Julião.
Julião
então saiu com os amigos do filho. Nesta noite, foi à discoteca, mas encontrou uma boate. De
calça de poliéster se deparou com uma avalanche de jeans. Quando tocava a música, Abba parecia estar
morto, avassalados por David Guetta.
Os
embalos de sábado à noite acabaram cedo para Julio. Indignado, matutava se o
tempo de fato estava passando tão rápido. Era tudo uma viagem que não conseguia
reconhecer, nem mesmo se olhando no espelho.
Um
dia no trabalho recebeu um sms no
seu Nokia. No corpo da mensagem
estava escrito: ABBA – Remember all good
times – Praça central – 12/10/12 - 18h. Foi um êxtase. O tempo estava
voltando. Não estava passando, estava voltando!
E
voltou tão rápido que o grande dia chegou como num piscar de olhos. Julio não foi o primeiro a aparecer
na praça. Já havia algumas pessoas esperando despretensiosamente o acontecimento. Às
18h, simultaneamente, todos começaram a dançar Mamma Mia! O vendedor de
cachorro quente, o gari, o passeador de cães, o avô com a netinha. Todos pareciam
jovens ao som do vocal de Anni-Frid Lyngstag e Agnetha Fältskg, as eternas
vocalistas do ABBA. Dez minutos depois, tudo diluiu, mas não a alegria de Júlio.
Voltou
pra casa, dormiu e sonhou feliz. No dia seguinte levantou ligou a TV e lá estava
ele na praça, com as mão para o alto cantando “mamma mia, here i go again”.
Mas nem tudo foi alegria. Júlio descobriu que a discoteca na praça era um flash mob, um jogo de marketing para a
promoção de uma peça teatral em cartaz na cidade. Um golpe pra ele.
As
pessoas então eram grupos de amigos? Não! Eram pessoas que se conheciam
virtualmente, mas não fisicamente. Ninguém havia dançado lembrando os bons
tempos? Talvez, mas não era esta a finalidade.
Caiu
o globo da disco e Júlio caiu na realidade. Pego numa armadilha da modernidade
teve que aceitar que as coisas mudaram. O mundo hoje é outro. Nada sobrenatural apenas
diferente. Um pouco longe dos anos 70 e
80 sim, mas perfeitamente possível de voltar no tempo e viver os bons momentos. Sem medo de ser feliz.

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