DUAS LÂMINAS DA INTERNET

A internet é uma faca de dois gumes. Com a possibilidade de compartilhamento de arquivos, a rede levou muito material, como músicas e filmes para pessoas que talvez nunca tivessem acesso. Posso me tomar como exemplo. Nunca eu conseguiria através de rádio ou TV conhecer uma banda de folk uruguaio (Franny Glass) ou uma banda pós-punk russa (Motorama).

Pierre Lévy fala que com a difusão e globalização da música pelo mundo não se criou uma homogeneização musical como era de se esperar. Pelo contrário, isso serviu de motor para a cibercultura. A música mundial difundiu-se e ficou independente, não sendo obrigada a submeter-se a indústria fonográfica. Assim institui-se um canal mais flexível e democrático entre o emissor (quem faz a música) e receptor (quem ouve a música).

Mesmo quebrando as pernas das gravadoras, a internet possibilitou que novos artistas chegassem ao mainstream (Como Mallu Magalhães no Brasil e Arctic Monkeys na Inglaterra). Mas dando entrada a novos artistas como ficam os velhos? Para cada artista que floresceu na idade analógica e teve que se virar na era digital coube uma alternativa diferente. Gilberto Gil foi o primeiro músico brasileiro a criar um canal de vídeos no Youtube,. Já o excêntrico estadunidense Prince até hoje proibi que seu repertório circule na rede. O exemplo mais emblemático da intifada contra o compartilhamento de música é o caso da banda de Metallica contra o Napster (relembre o imbróglio nessa matéria publicada na época http://whiplash.net/materias/news_984/006082-metallica.html)

O que no começo da década parecia um ultraje rigoroso aos direitos autorais, hoje se transforma em catapulta para lançamentos de novas bandas. Agora ninguém precisa ficar refém das rádios e TVs. A internet é um grande menu que pode saciar a fome de qualquer um.

Com várias opções para todos os gostos, a internet pode ser comparada a uma loja de departamentos. E quando você pensa em loja de departamento você pensa em qualidade? Quando é de graça (o download da música) o santo desconfia? Aí que vem a outra lâmina. Como um artista vai se destacar entre milhares já que seu trabalho vai ser distribuído de graça. Vale a pena o empenho? Toda essa nova onda sonora alicerceada na livre e rápida distribuição vai ficar e significar algo?

Muitas questões e poucas respostas imediatas (a vida não dá uma resposta instantânea igual no facebook). Em 1993, numa entrevista concedida a Edney Silvestre (mais tarde publicada no livro Contestadores, 2003) o escritor Norman Mailer profetizou “Cultura vai virar algo como um hambúrguer do McDonalds, que se come, se digeri e se esquece rapidamente”.

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