O
filme conta a história de Amélie, uma criança que cresceu em meio a conflitos
internos, e se tornou uma mulher com uma visão alternativa do mundo à sua
volta.
Quando
tinha seis anos o pai de Amélie constata que ela tem problemas cardíacos, já
que a única vez em que eles tinham contato era quando ele a analisava
mensalmente, e nesse momento o coração de Amélie disparava. Devido a essa
constatação, ela não é matriculada na escola e começa a ter lições com sua mãe.
A mãe de Amélie morre quando ela ainda é criança e o pai se fecha mais ainda.
Quando
ela tem idade para sair de casa, muda-se para o bairro parisiense de Montmartre
e começa a trabalhar como garçonete no café Deux Moulins. É quando seu mundo se
abre para novas relações, porém ainda muito limitadas.
Utilizando
de signos o diretor se preocupa em criar verdadeiros quadros nos seus filmes,
gerando imagens belíssimas. É um dos pontos fortes de Jean-Pierre Jeunet e é
uma das suas características mais aclamadas, as cores de seus filmes, o uso de
posicionamentos de câmera diferenciados e inovadores, todos esses fatores
ajudam a criar a visão fantástica da história que Jean-Pierre quer contar aos
espectadores. Analisaremos três cenas isoladas para exemplificar a linguagem
utilizada no filme.
Infância de Amélie
Em uma cena
Amélie aparece com seis anos brincando com objetos que ela mesma criou e
transformou em brinquedos. Uma cena de mais de cinco minutos mostrando o mundo
que Amélie vive, privada de relacionamentos e amizades e se permitindo entrar
em um mundo de fantasia.
Nessa
cena é possível perceber a escolha de objetos coloridos, formatos arredondados,
que remetem à feminilidade, e de cenários condizentes com o uso de técnicas da
teoria das cores, como o das complementares (são as opostas no disco de cores).
As cores complementares são usadas para dar força e equilíbrio a um trabalho,
criando contrastes. As principais cores utilizadas são o vemelho e o verde, agindo
como quali-signo. O vermelho representa dinamismo, energia, revolta, calor,
raiva. E o verde bem-estar, paz, saúde, equilíbrio.
Como
exemplo dessa composição, vemos algumas vezes nas cenas de "O Fabuloso
Destino de Amélie Poulain” quando Amélie está em sua casa, a sala tem uma cor
alaranjada e um abajur azul ou verde para formar esse destaque em ambas as
cores.
A
fotografia do filme é inspirada no pintor catarinense Juarez Machado. Suas
obras têm em comum o uso das cores complementares e de contrates, como é
possível observar no quadro abaixo.
Juarez
Machado - "Châteaux Beychevelle" 1989.
O
filme também trás traços da arte impressionista, e em alguns momentos do filme
faz referência clara a ela. Como, por exemplo, o vizinho de Amélie, que pinta o
mesmo quadro todos os anos, de August Renoir, reconhecido pintor
impressionista.
As principais
características da obra impressionista são seu modo de representação através de
cores e iluminação. O preto jamais é usado em uma obra impressionista
plena, os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das
cores complementares.
A vida de Amélie na
televisão
Em
dado momento do filme, a princesa Diana (Lady Di) morre, isso tem grande
impacto na vida de Amélie . Ela está em seu sofá assistindo televisão, quando
começa uma reportagem sobre a morte da princesa Diana, então ela se vê na
reportagem, e compara sua vida a vida da princesa Diana.
Outra
característica desse filme é a comparação de Amélie com diversos personagens de
reconhecimento. Podemos observar isso quando ela vê um documentário da
princesa, se vê em seu lugar, que era considerada uma heroína na época. Há a
comparação com Dom Quixote, um herói conhecido por ter uma visão surreal do
mundo à sua volta. E existe ainda a comparação de Amélie com a menina central
do quadro que o vizinho todos os anos, a única que não está se relacionando com
nenhum outro personagem. A partir do momento que ele entende as ações de
Amélie, ele passa a entender a menina e assim consegue finalizá-lo.
Encontro com Nino
Nessa
cena, Amélie planeja devolver um álbum de fotografia que ela encontrou na rua
para o seu dono, Nino, que colecionava fotos 3X4. Então ela arma uma estratégia
para devolver o álbum sem precisar fazer contato com Nino. Nessa cena fica
claro que Amélie leva uma falta de habilidade para lidar com as pessoas,
conseqüência de sua infância, em que ela nunca teve amigos, nem mesmo colegas.
Essa
cena se passa em um parque, em um local aberto onde não se pode controlar tão
bem as cores e objetos da cena, porém ainda assim se consegue uma harmonia com
o resto do filme, utilizando dos brinquedos do parque, das árvores e das roupas
das pessoas para caracterizar a cena, e ainda um tratamento final de “amarelamento”
da cena, para passar a ideia de luz solar, uma característica do
impressionismo.
Pode-se
perceber outro objeto utilizado no filme, as fotografias da coleção de Nino. As
quais representam sin-signos, que se relacionam com o filme como se fossem
personagens.
O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme completamente trabalhado em cima
de representações do cotidiano feminino, inclusive sendo a personagem principal
uma mulher, essa ideia é reforçada pelas cores utilizadas, objetos e pequenos
ícones.
No
filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain é pouco notável a presença de
legi-signos. Isso pode ser analisado como uma tentativa do autor de retratar um
mundo sem limites ou regras, criado por Amélie a partir de uma visão surreal do
mundo a sua volta, de certa maneira um pouco infantil, conseqüência da sua
infância perturbada. O que é certo e errado é só ela que define.
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